Brasil deve se tornar alvo de terrorismo, diz especialista

HERMANO FREITAS

O professor da Universidade de Haifa (Israel) e especialista em terrorismo Gabriel Weimann estimou que o Brasil deva se tornar um alvo preferencial de terrorismo. De acordo com o acadêmico, esta condição se deve à posição econômica cada vez mais privilegiada do País, ao fato de sediar grandes eventos esportivos e à sua exclusão social.

“O Brasil tem populações frustradas e infelizes, alguns de seus cidadãos estão cheios de frustração e ódio porque se sentem alienados. É um território explorável pelas organizações terroristas, que recrutam pessoas deste perfil”, disse Wimann. Ele citou a Copa do Mundo e as Olimpíadas, de cujas próximas edições o Brasil sede, em referência à ação de extremistas nos Jogos Olímpicos de Munique, na Alemanha, em 1972.

Em sua exposição, o israelense alertou para a nova fase em que se encontra a maior organização terrorista Al-Qaeda após a morte de Osama Bin Laden e sua reposição por Ayman al Zawahiri, segundo ele “mais sofisticado” que seu antecessor. “A Al-Qaeda precisa mostrar que ainda é capaz de atuar e ser perigosa e a primavera árabe e o vácuo político criado por este acontecimento pode ser o cenário ideal para seu ressurgimento”, alertou.

Weimann palestrou na sociedade Hebraica, em São Paulo, por ocasião do aniversário de 10 anos dos ataques terroristas do 11 de setembro. Também falaram o ex-ministro da Reforma Agrária, Raul Jungmann, que alertou para o fato de que o Brasil ainda não tem uma legislação que tipifique o crime de terrorismo. “Temos a ambição de falar em um assento no Conselho Permanente de Segurança da ONU e bloqueamos este assunto. É esquizofrênico”, disse Jugmann.

Fonte: Portal Terra

Eles vão partir para o Ataque

Super Hornet, um dos finalistas do FX-2

Como grupos nacionais e estrangeiros estão se articulando para sair na frente no bilionário e promissor mercado de defesa e segurança

Melina Costa

Em milhares de anos de civilização há pouca margem para dúvida: países que tornam-se grandes potências econômicas acabam virando gigantes militares. Foi assim da Roma antiga aos Estados Unidos de hoje. Esse fim inescapável traz um grande desafio para o Brasil. Se tudo der certo, o País será a quarta maior economia do mundo em 2050 – o que vai exigir o renascimento da indústria local de defesa, até agora marcada pela presença de empresas sobreviventes em um cenário de decadência. “A ideia não é preparar o Brasil para sair atacando por aí, mas criar uma imagem que impeça eventuais ofensivas contra seus recursos naturais”, diz um executivo com longa experiência na área que pediu para não ser identificado.

 

No fim de 2008, o governo definiu as bases para o crescimento do setor ao criar a Estratégia Nacional de Defesa, um conjunto de diretrizes que dá prioridade para as companhias nacionais e, no caso de compras do exterior, exige a transferência de tecnologia para o Brasil. No ano passado, foram alocados R$ 60 bilhões para a defesa (a maior parte dos recursos teve como destino o pagamentos de salários). Trata-se de um valor modestíssimo perto do mais de R$ 1 trilhão investido pelos EUA, mas representa um aumento de quase 17% na comparação com 2009 e de 148% em relação ao início da década. É difícil medir com precisão o total a ser despejado nos próximos anos, mas três grandes projetos – vigilância das fronteiras, da costa e do espaço aéreo – devem consumir R$ 180 bilhões. A primeira etapa começa agora e vai durar seis anos.

A articulação para receber tudo isso já começou. Como as empresas mais experientes da defesa são de porte médio – portanto, sem condições de arcar com o volume de investimentos necessário -, grandes grupos brasileiros, alguns sem experiência na área, decidiram entrar no jogo. Um deles é o Andrade Gutierrez, que controla uma das maiores construtoras do País e tem participação relevante na operadora Oi. O conglomerado mantém negociações com a francesa Thales, que fabrica de sistemas de tráfego aéreo a estações espaciais e fatura 13 bilhões.

“Estamos discutindo, mas o modelo deve caminhar para uma joint venture”, diz Giovanni Foragi, vice-presidente de desenvolvimento de negócios da Andrade Gutierrez. “Nós temos competência de gestão e experiência em telecomunicações, que pode ser usada para conceber sistemas de satélites. Já a Thales é uma líder mundial em defesa e segurança.”

Outra gigante nacional habituada a lidar com o governo, a Camargo Corrêa, também nutre planos de entrar na área de defesa. O grupo contratou um executivo para comandar o negócio e, segundo o Estado apurou, conversa com grupos estrangeiros para costurar uma possível parceria. Procurado, o conglomerado não deu entrevista.

Compras. A Embraer é, provavelmente, o nome mais conhecido – mas também começa a investir fortemente só agora. Em 2006, a área de defesa representava 5% da receita. Hoje já é 13% e a expectativa é que, no ano que vem, o segmento alcance receita de US$ 1 bilhão. Diante dessa meta, a companhia criou, no fim do ano passado, a Embraer Defesa e Segurança – uma unidade autônoma, com seu próprio presidente executivo – e foi às compras.

Em março, a empresa adquiriu o controle da divisão de radares da OrbiSat, fabricante de sistemas de monitoramento e de defesa antiaérea. No mês seguinte, comprou metade do capital da Atech, que foi responsável pelo desenvolvimento do sistema de controle aéreo brasileiro. Na semana passada, anunciou a compra de 25% da AEL (subsidiária da israelense Elbit Systems), com a qual formalizou a parceria em uma nova empresa, a Harpia, para investir no mercado de veículos aéreos não tripulados.

Hoje, a Embraer já trabalha em um projeto do governo de US$ 2 bilhões: a construção do avião cargueiro KC 390. Agora, a ideia é participar de outro megainvestimento: o Sisfron, Sistema de Segurança das Fronteiras. “Essa área é altamente estratégica porque lida com informações sensíveis. Normalmente, os governos contratam empresas nacionais para não entregar esses dados a estrangeiros”, diz Luiz Carlos Aguiar, presidente da Embraer Defesa e Segurança.

Menos popular que a Embraer, porém a mais antiga do setor, a Avibrás Aeroespacial acaba de receber R$ 45 milhões em encomendas do Exército. Embora o pacote seja formalmente destinado à reposição de suprimentos, como novos foguetes, e de avançados blindados sobre rodas de comando, controle e comunicações, para servir ao sistema Astros-II – seu maior sucesso comercial -, os recursos servirão para dar inicio à compra do ambicioso Astros 2020, a próxima geração do equipamento. O presidente do grupo, Sami Hassuani, estima em US$ 3 bilhões, em dez anos, o tamanho do mercado internacional para o novo produto.

O conjunto em desenvolvimento na fábrica de São José dos Campos precisa de R$ 1,2 bilhão do Ministério da Defesa para ser executado. Como a empresa está em recuperação judicial, a forma como o governo fará esse aporte implica participação direta da União, que deve ter de 15% a 25% da Avibrás.

A Odebrecht foi a primeira novata a enxergar o potencial das compras militares. Em meados do ano passado, formou uma joint venture com a EADS, segundo maior grupo de defesa e segurança do mundo. No início do ano, adquiriu o controle da brasileira Mectron, fabricante de mísseis e radares. Mais recentemente, o conglomerado criou a Odebrecht Defesa e Tecnologia (ODT), para centralizar os investimentos na área. Essa companhia já trabalha em um dos mais ambiciosos projetos em andamento no País: a construção de cinco submarinos, um contrato de 6,7 bilhões.

“Gato escaldado”. Apesar disso, o grupo ainda encara o negócio de defesa com cautela. “Essa é uma grande aposta. Mas não temos a menor convicção se esse é um plano de Estado ou de governo”, diz Roberto Simões, presidente da ODT. “Gato escaldado tem medo de água fria.” Entre executivos do setor, não há dúvidas de que existe a intenção do governo de fortalecer a indústria local. O problema é saber se o desejo sobreviverá às turbulências políticas. Só neste ano, a área de defesa teve corte de R$ 4 bilhões – como parte de uma tentativa de promover ajuste fiscal – e trocou de ministro. Nelson Jobim criticou colegas; caiu no início de agosto.

“O grande problema é que não há um plano plurianual para esse setor. Em defesa, não se faz investimentos de um ano para ou outro. É necessário um horizonte de 15, 30 anos para fomentar o investimentos das empresas”, diz Marcelo Gonçalves, diretor da consultoria KPMG. O Ministério da Defesa não concedeu entrevista, mas informou que está em discussão um novo marco regulatório para que os projetos de defesa não sejam mais suscetíveis a contingenciamentos.

OS PLANOS DAS EMPRESAS

1. Embraer
Adquiriu e criou empresas na área de defesa. Seu objetivo é atingir receita de US$ 1 bi em 2012

2. Odebrecht
Firmou joint venture com a EADS e comprou a brasileira Mectron, de mísseis e radares

3. Andrade Gutierrez
Negocia com a francesa Thales, que faz de sistemas de tráfego aéreo a estações espaciais

4. Camargo Corrêa
Contratou executivo para tocar o negócio e discute parceria com grupos estrangeiros

5. Avibrás
Empresa estima que o mercado para o novo Astros 2020 seja de US$ 3 bilhões

6. Cassidian
A empresa do grupo EADS vai abrir no Brasil seu primeiro centro de engenharia fora da Europa

Fonte: O Estado de São Paulo

Força de paz no Haiti será reduzida gradativamente, dizem autoridades

Marcia Carmo

A presença das tropas de paz das ONU no Haiti deverá ser reduzida gradativamente, afirmaram nesta quinta-feira o ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Luis Almagro, e o representante das Nações Unidas no Haiti, o chileno Mariano Fernández.

“O cronograma da Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti) terá a tendência a diminuir as tropas”, afirmou Fernández em Montevidéu, onde se reuniu com ministros das Relações Exteriores e da Defesa dos países da Unasul.

“Isso quer dizer que o Haiti está assumindo a condução de seu próprio país”, afirmou.

“Devemos voltar a ter a mesma quantidade de soldados que tínhamos antes do terremoto no Haiti”, disse o chanceler uruguaio a jornalistas, após a reunião.

“Esperamos que, aos poucos, em três ou quatro anos, o país volte a ter sua própria segurança”, disse Almagro, segundo o jornal El Observador, da capital uruguaia.

Depois de ser atingido por um terremoto devastador, em janeiro de 2010, o Haiti viu um aumento nas tropas de paz, que passaram de cerca de 9 mil para mais de 12 mil soldados, de acordo com autoridades uruguaias.

Os países da Unasul representam cerca de 40% do total de efetivos da Minustah, integrada por 18 países e presente no Haiti desde 2004.

Também participaram do encontro os ministros das Relações Exteriores, Antonio Patriota, e da Defesa, Celso Amorim.

“Não podemos ficar eternamente (no Haiti), mas também não podemos sair de maneira que não seja responsável”, disse Amorim nesta quinta-feira, logo após encontro com o presidente uruguaio, José “Pepe” Mujica.

Almagro disse que a saída das tropas será coordenada com o governo haitiano e as Nações Unidas.

Ban Ki-moon

Almagro e Fernández disseram que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, deverá recomendar ao Conselho de Segurança das Nações Unidas uma “redução das tropas que não afete o trabalho atual no Haiti”.

A recomendação de Ban deverá ser feita no próximo dia 15, quando será aberta nova sessão ordinária da Assembléia Geral das Nações Unidas.

Os países da Unasul com tropas na Minustah são Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Equador, Guatemala, Paraguai, Peru e Uruguai.

“Estes países acompanharão a proposta de redução de tropas (no Haiti). Também vão solicitar a abertura de um debate sobre como esta retirada de militares deverá ser feita”, informou a Presidência do Uruguai.

Segundo o site da Presidência, os ministros das Relações Exteriores e da Defesa destes países “também querem atender à solicitação haitiana de quantidade maior de componentes civis, especializados em temas econômicos e sociais”.

Denúncias

Almagro e Fernández disseram que a retirada das tropas não está ligada às denúncias contra quatro soldados uruguaios acusados de abusos contra um jovem haitiano na cidade de Port Salut, no sul do país.

“Queremos agradecer a forma rápida, enérgica e sem ambiguidade com que o Uruguai reagiu (neste caso) e sua disposição para investigá-lo”, disse Fernández.

A imprensa uruguaia informou nesta quinta-feira que, segundo a chefe de comunicação da Minustah, Eliana Nabaa, os militares acusados de abusos contra o haitiano não deverão ser repatriados antes da conclusão das investigações do caso.

O presidente uruguaio enviou, na quarta-feira, uma carta ao colega haitiano Michel Martelly “pedindo desculpas ao povo haitiano”.

“Não é tão comum que os chefes de Estado tomem esta atitude. Esta capacidade revela a grandeza que está à altura do povo uruguaio”, disse o ministro Celso Amorim, a respeito do pedido de desculpas de Mujica.

Fonte: BBC Brasil

Embraer e israelense Elbit formam joint venture na área de defesa

Por Stella Fontes | Valor

SÃO PAULO – A israelense Elbit Systems informou hoje que assinou, por meio de sua subsidiária brasileira, a AEL Sistemas, uma série de acordos com a Embraer Defesa e Segurança, que resultam na constituição de uma joint venture, batizada Harpia Sistemas, com sede em Brasília.

A fabricante de aeronaves Embraer, por meio de sua subsidiária para a área de segurança, terá participação de 51% na Harpia, enquanto a companhia israelense, via AEL, ficará com a fatia restante.

Segundo a Elbit, os acordos resultaram ainda na aquisição de 25% da AEL pela Embraer Defesa. A Harpia se concentrará no desenvolvimento de sistemas para aeronaves não tripuladas e simuladores.

Fonte: Valor Econômico

Ministro da Defesa defende retirada gradual de tropas do Haiti

Marcia Carmo

De Buenos Aires para a BBC Brasil

O Brasil precisa começar a pensar na saída gradual de suas tropas do Haiti, disse nesta segunda-feira o ministro da Defesa, Celso Amorim, na embaixada do Brasil em Buenos Aires.

Em entrevista, Amorim disse que deveria ocorrer, primeiramente, uma redução gradual das tropas, a partir da definição de um cronograma conjunto dos países da Unasul (União das Nações Sul-Americanas) com a ONU, antes da retirada total.

“Não podemos ter uma saída desorganizada que gere uma situação de caos”, disse o ministro.

“Nós devemos uma atitude responsável em relação ao Haiti e em relação a nós mesmos. Agora, a médio e longo prazo, não é bom nem para o Haiti e nem para quem está lá que essa presença se perpetue”, disse.

Amorim afirmou que este será o principal assunto da reunião da Unasul na próxima quinta-feira, em Montevidéu.

Segundo o ministro da Defesa, é preciso evitar uma situação de “falso conforto” em relação à presença de soldados no Haiti. “Temos de discutir de maneira serena. Mas (a questão das tropas) tem que ser vista.”

As declarações ocorreram após a decisão do Uruguai de trazer de volta cinco “capacetes azuis”, nome dado aos militares das missões de paz da ONU, depois da acusação de que eles teriam cometido abuso sexual contra um adolescente no Haiti.

Amorim disse que não conhecia o caso. Segundo ele, a reunião no Uruguai não terá este assunto como tema.

Para ele, o episodio é isolado e não pode afetar a imagem da Minustah (missão de paz da ONU para o Haiti). “Não se pode contaminar toda a missão de paz por um episodio especifico”, disse.

No entanto, quando questionado se as tropas poderiam estar sofrendo um desgaste no Haiti, Amorim disse: “Qualquer tropa em qualquer lugar do mundo sofre desgaste”.

 

Estabilidade

Amorim afirmou que a situação critica de segurança no país já foi superada, após duas eleições e o aumento na presença de tropas após o terremoto ocorrido em janeiro de 2010.

“Os manuais de ciências políticas orientam que a segunda eleição é a que indica que a democracia está consolidada”, disse o ministro.

O ministro afirmou, no entanto, que a decisão sobre a saída do Haiti deve ser tomada não apenas pela Defesa, mas também pela presidente Dilma Rousseff e pelo Ministério das Relações Exteriores – pasta que ocupou no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Amorim disse que ele e o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, conversaram sobre o assunto na semana passada e concordaram com a redução e a futura retirada das tropas.

O ministro afirmou que não será tomada uma decisão unilateral por parte do Brasil ou dos países da Unasul, que deverão agir em conjunto com a ONU.

Amorim disse ainda que não existe um cronograma para esta redução de tropas e a possível retirada do país.

O ministro afirmou ainda que a redução das tropas brasileiras será inicialmente pequena, porque os brasileiros estão na área de Porto Príncipe, que é mais critica.

O ministro foi à Argentina para reuniões com a presidente Cristina Kirchner e com seu colega do país vizinho, Arturo Puricelli. Segundo Amorim, foram discutidos assuntos de cooperação na área de defesa.

Fonte: BBC Brasil

Presidente da Agência Espacial pede R$ 1 bi por ano

 

Virgínia Silveira

O programa espacial brasileiro (PEB) está diante de um dilema: ou vira uma prioridade do governo, com direito a um orçamento mais de duas vezes superior aos R$ 300 milhões atuais, ou vai continuar pequeno e incapaz de atender as necessidades brasileiras na área de defesa, vigilância, comunicações, meteorologia e proteção ambiental. Sem recursos humanos qualificados e uma gestão organizada, o programa, como está sendo desenvolvido hoje, também não permitirá a criação de uma indústria fornecedora competitiva e inovadora.Ampliar imagem

Essa é a avaliação do novo presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Marco Antônio Raupp, que está propondo ao governo federal diversas mudanças na condução do programa. Para começar, Raupp defende uma alteração na estrutura de poder e comando do segmento, com a criação de um Conselho Nacional de Política Espacial, que seria constituído pela presidente da República e pelos ministros das áreas de interesse do setor, e a transformação da agência que preside em um órgão executivo das políticas emanadas desse conselho. A AEB continuaria vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), mas ganharia mais poder para a execução do programa espacial.”O conselho definiria a política espacial e a AEB a executaria, contratando os órgãos e as empresas para participarem dos projetos, além de fazer o acompanhamento dos contratos”, explicou. A agência hoje, na opinião de Raupp, é apenas um órgão coordenador, mas sem capacidade de governança.

Raupp informa que a primeira previsão para o orçamento do programa espacial este ano foi R$ 320 milhões, mas com as restrições orçamentárias, o valor caiu para R$ 270 milhões, sendo R$ 50 milhões relativos ao compromisso assumido pelo Brasil na integralização do capital da empresa Alcantara Cyclone Space (ACS).

A ACS é uma empresa pública binacional de capital brasileiro e ucraniano, que tem o objetivo de comercializar e lançar satélites utilizando o foguete ucraniano Cyclone-4 a partir do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão. O investimento total aplicado no programa espacial desde 1980 soma R$ 5,2 bilhões.

Na Índia, segundo Raupp, os investimentos na área espacial já superaram a cifra de US$ 1 bilhão por ano e a China aplica cerca de US$ 2 bilhões anuais em seu programa espacial. “Isso sem citar os Estados Unidos e a Europa, que não dá para comparar. Estou olhando apenas para o Bric [grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China] e ainda assim nós estamos atrás de todos eles”, disse.

Em qualquer país do mundo, segundo Raupp, o programa espacial também serve para estimular uma indústria inovadora e competitiva. “De 2005 para cá 25% dos recursos destinados ao PEB vão para a indústria. Nos países com programa espacial avançado essa participação é de 66%. Isso significa que temos ainda um longo caminho pela frente”, afirmou.

De acordo com Raupp, existem demandas hoje que nunca foram atendidas pelo programa espacial e com as restrições orçamentárias as dificuldades são ainda maiores. “Temos de estabelecer prioridades. Por exemplo: não temos nenhum satélite meteorológico ou de comunicação estratégica militar. Isso é fundamental e crítico no nosso programa espacial.”

O presidente da AEB acredita que o projeto de um satélite geoestacionário brasileiro (SGB) poderia se tornar viável por intermédio de um arranjo empresarial que envolva empresas internacionais e nacionais, além da participação dos institutos de pesquisa.

Segundo Raupp, foi feito um estudo de viabilidade para o projeto do SGB, que previa uma parceria público privada (PPP) e a empresa Oi aparece como uma das interessadas. “A Embraer Defesa e Segurança é uma empresa que poderia se candidatar a um arranjo desses. Outras empresas brasileiras que estão se capacitando na área de defesa também devem ser consideradas nesse projeto”, disse.

Raupp lembra que o Programa Nacional de Banda Larga, que está sendo desenvolvido pelo Ministério das Comunicações, prevê a utilização de satélites para prover internet em áreas remotas do país. “Nesse caso, o próprio programa de banda larga, através da Telebras, usando os fundos de telecomunicações, poderia ser uma alternativa de financiamento ao projeto do SGB”, explicou.

A proposta de criação do Conselho, segundo o presidente da AEB, está sendo discutida com o governo e a comunidade científica, mas os órgãos executores do programa espacial (Inpe e DCTA) já se posicionaram a favor. “A resistência diz respeito somente à proposta de fusão do Inpe com a AEB, mas eu não vou mais brigar por causa disso. A criação do conselho, no entanto, é fundamental”, disse.

A proposta de fusão fazia parte do processo de reestruturação do programa espacial brasileiro, liderado pela AEB, mas foi descartada depois que o diretor do Inpe, Gilberto Câmara, se colocou contrário à ideia. O diretor do Inpe decidiu reavaliar sua posição temendo que a fusão interferisse na integridade da instituição e também que o nome do Inpe fosse alterado.

Segundo Raupp, houve um mal entendido, pois ao contrário do que se pensou, não havia a intenção de transformar o Inpe numa agência. “Um instituto de pesquisa não pode ser uma agência espacial. Ele tem que olhar para si mesmo e a agência tem que estar aberta para as empresas e para outros institutos tecnológicos”, afirmou.

Em agosto o diretor do Inpe anunciou que deixaria o cargo em dezembro, dois anos antes do prazo previsto para o fim do seu mandato. Em carta que enviou ao jornal “Folha de S. Paulo”, Câmara disse que sua saída estava relacionada “à exaustão causada pela luta diária com uma legislação e estruturas institucionais totalmente inadequadas a instituições de ciência e tecnologia”, além de se sentir frustrado pela falta de renovação dos quadros do Inpe.

Fonte: Valor Online


Desarmamento – A Líbia e o Desarmamento como Instrumento de Dominação

Fabricio Rebelo
Bacharel em Direito, pesquisador em segurança pública e coordenador da
ONG Movimento Viva Brasil para a Região Nordeste.

Quando se afirma que regimes totalitários adotam o desarmamento da população civil como medida imediata de sedimentação dominadora, ceifando da sociedade qualquer possibilidade de insurgência eficaz, os defensores do ideal antiarmas logo bradam cuidar-se de um argumento conspiratório. O Japão imperial, a União Soviética de Stalin e a Alemanha de Hitler deixam de ser exemplos históricos e são tratados como se nunca tivessem existido.

Porém, felizmente (ou não), a História não é formada por atos isolados e descontextualizados; os exemplos, para o bem ou para o mal, se repetem ao longo do seu curso. Sempre que isso ocorre, argumentos infundados são derrocados e teses por muitos voluntariamente ignoradas acabam tendo de ser admitidas.

Atualmente, a utilização do desarmamento civil como medida de dominação volta fortemente à torna com os lamentáveis conflitos civis instaurados na Líbia, que tiveram como resultado a derrubada de um regime totalitário que oprimia a população daquele país, feito, aliás, somente possível graças à distribuição, junto ao povo, de instrumentos eficazes para a sua consecução: as armas.

Entretanto, derrubado o regime, agora são os outrora rebeldes, hoje responsáveis pelo Conselho de Transição, que impõem o desarmamento ao restante da população líbia, conforme matéria veiculada pela Revista Veja, em sua edição eletrônica atualmente disponível na rede mundial de computadores e na qual bem se evidencia a efetiva utilidade de sua adoção.

Sem adentrar ao seu mérito ou demérito no contexto em que utilizado, o fato é que, efetivamente, o desarmamento da população civil é e sempre foi instrumento basilar de dominação, ou, como muitos preferem, de “pacificação social”, mesmo quando sob um regime totalitário.

Na Líbia, pelo menos, não se disfarçou o objetivo da medida. Resta saber se os especializados analistas de plantão também vão dizer que isso não está existindo.

Movimento Viva Brasil
http://www.mvb.org.br/

Fonte: defesanet

ANÁLISE COMDEFESA – Por uma Política de Aquisição de Material de Defesa

A alteração da Lei de Licitações (8.666/93) de acordo com a realidade da indústria de defesa e com as necessidades das Forças Armadas, o estabelecimento de um orçamento militar previsível e a articulação das compras de material de defesa, é só o começo do desenvolvimento de um sistema de aquisição eficiente. No entanto, são medidas imprescindíveis sem as quais não avançaremos em questões fundamentais, como planejamento, gestão e controle dos programas militares.

No atual contexto de crise econômica e redução dos gastos em defesa no mundo, diversos países estão racionalizando e melhorando seus sistemas de compras na área militar. O constante aprimoramento dos processos de aquisição é essencial para garantir uma alocação eficiente dos recursos, alto desempenho dos programas e qualidade dos produtos e serviços.

No Brasil, desde a Estratégia Nacional de Defesa (END/2008), se menciona a formulação de uma política articulada de compras a ser implementada pela Secretaria de Produtos de Defesa (SEPROD), criada pela Lei nº 907/2010 que reestruturou o Ministério da Defesa (MD).

A SEPROD, ainda em fase de estruturação, deve estabelecer as bases para a formulação e atualização da política de compras de produtos de defesa, exercer o controle das importações e exportações relativas a estes itens, coordenar a fiscalização das empresas estratégicas e produtos de defesa, assim como a participação das Forças Armadas no processo de fabricação de produtos de defesa. Além disso, se compromete a propor os fundamentos para a formulação e atualização da política nacional de ciência, tecnologia e inovação de defesa, visando o desenvolvimento tecnológico e a criação de novos produtos de defesa.

A Secretaria vai coordenar a definição dos requisitos dos produtos de uso comum às Forças Armadas, o que envolve um grupo multidisciplinar de profissionais relacionados à área de tecnologia, ao gerenciamento de compras, à licitação, entre outros. Como exemplo de compra articulada, já tivemos a licitação, coordenada pelo MD e de responsabilidade da Aeronáutica, para a aquisição de 50 helicópteros de transporte EC- 725 (16 para cada Força e 2 para uso presidencial). Com a centralização das compras de material de defesa, espera-se a eliminação de gastos sobrepostos e a otimização das tecnologias sensíveis.

A alteração da Lei de Licitações (8.666/93) de acordo com a realidade da indústria de defesa e com as necessidades das Forças Armadas, o estabelecimento de um orçamento militar previsível e a articulação das compras de material de defesa, é só o começo do desenvolvimento de um sistema de aquisição eficiente. No entanto, são medidas imprescindíveis sem as quais não avançaremos em questões fundamentais, como planejamento, gestão e controle dos programas militares.

Apesar dos importantes avanços, o desenvolvimento de uma política de compras na área de Defesa engloba outros aspectos essenciais, como o aprimoramento do marco institucional e o estabelecimento de diretrizes e práticas em termos de gestão dos recursos e controle dos programas e projetos.

A aquisição de material militar no Brasil é feita obrigatoriamente por meio de licitações públicas, cujas normas estão consolidadas na Lei nº 8.666/93 e alterações posteriores1. Esta lei busca assegurar ao setor público a competição justa entre os licitantes, a imparcialidade no julgamento e a garantia da seleção das propostas mais vantajosas para os bens e serviços demandados pelos órgãos governamentais.

Contudo, no caso das aquisições de material de defesa, razões tributárias e orçamentárias dificultam muitas vezes a escolha da melhor proposta e impõem uma série de obstáculos ao desenvolvimento da indústria nacional.

A legislação brasileira permite que se obtenha material de Defesa no exterior sem praticamente nenhum imposto, enquanto os produtos nacionais são encarecidos em aproximadamente 40% com diversos impostos federais, estaduais e municipais2. Essa situação é agravada pelo fato de predominar o critério de menor preço nos processos de licitação, já que os tipos de licitação “melhor técnica” e “técnica e preço” são utilizados somente para serviços de natureza predominantemente intelectual (como elaboração de projetos e estudos técnicos) e, no último caso, para a aquisição de bens e serviços de informática.

Esses dois fatores combinados vão contra o art. 3º da Lei 8.666/93 (que prevê que os processos licitatórios sejam norteados pela isonomia e igualdade dos licitantes), dificultando o desenvolvimento de empresas fornecedoras nacionais e o adensamento da cadeia produtiva.

As políticas recentemente adotadas pelo governo para estimular a competitividade do setor industrial de defesa têm se baseado em medidas de salvaguarda para proteger a indústria nacional (fundamental para um setor que renasce após décadas de abandono). São exemplos: o estabelecimento em 2010 de uma sobretaxa de US$ 12 para cada par de coturnos importado,

afastando os chineses da área de calçados, e a regulamentação da Lei nº 12.349/2010 no contexto do lançamento do Plano Brasil Maior (2011-2014) em princípios de agosto(3).

Esta última alterou a Lei nº 8.666/93 e instituiu  margem de preferência de até 25% nos processos de licitação para produtos manufaturados e serviços nacionais, entre eles os do setor de defesa, que atendam às normas técnicas brasileiras. A medida poderá evitar o gasto anual de R$ 100 milhões na compra de 400 mil uniformes camuflados de indústrias localizadas na China. Entretanto, ainda é modesta se considerarmos a valorização expressiva do real e a magnitude da assimetria tributária, produzindo resultados menos expressivos em outras áreas de grande importância estratégica, como os setores intensivos em tecnologia e conhecimento, nos quais a competição internacional não é menos acirrada.

Por outro lado, a Lei nº 12.349/2010 prevê que nas contratações destinadas à implantação, manutenção e ao aperfeiçoamento dos sistemas de tecnologia de informação e comunicação, considerados estratégicos em ato do Poder Executivo federal, a licitação poderá ser restrita a bens e serviços com tecnologia desenvolvida no País (art. 3º, § 12). Quanto a isso, é importante destacar as oportunidades para a indústria de defesa, já que há espaço na lei para considerarmos, por exemplo, atividades de integração de sistemas, sistemas C2, C4ISR e de comando e controle remoto de VANTs para uso em segurança pública como sistemas estratégicos que teriam preferência em detrimento da contratação de produtos estrangeiros.

Apesar de tais medidas representarem um alívio para a indústria nacional, ainda estamos
distantes de implementar políticas mais efetivas, como de fato seria a desoneração da cadeia produtiva e a utilização do poder de compra do Estado para a obtenção de resultados em termos de desenvolvimento industrial. Como podemos verificar no próprio texto do Plano Brasil Maior: “O Brasil ainda está nos primórdios do processo de integração do poder de compras públicas à política de desenvolvimento produtivo e tecnológico, ainda que os aprimoramentos recentes da legislação tenham sido significativos”.

Atualmente, dois projetos de lei buscam alterar o art. 24 da Lei 8.666/93 que versa sobre as dispensas de licitação nas aquisições governamentais, e dar preferência à compra de
produto de defesa nacional. Deve-se destacar que essas medidas, se regulamentadas, não apenas incentivarão a capacitação da indústria nacional de defesa, como também proporcionarão maior autonomia e independência ao País, dado o caráter estratégico do setor.

Hoje, o primeiro projeto de lei, em vias de virar Medida Provisória, é fruto de um trabalho
conjunto entre o COMDEFESA (Departamento da Indústria de Defesa da FIESP) e o Ministério da Defesa. Este busca dar prioridade para aquisição e contratação junto à empresa brasileira de Produtos Estratégicos de Defesa, cujas compras se enquadrariam como hipótese de dispensa de licitação.

O outro se refere ao projeto de lei 4432/2008 que, se regulamentado, possibilitará a dispensa de licitação para a aquisição de bens e serviços necessários à Defesa Nacional, de média e baixa complexidade tecnológica, produzidos ou prestados no País por empresas públicas ou privadas.

O poder de compra do Estado e sua política de aquisição na área de Defesa são, muitas vezes, comprometidos devido ao contingenciamento orçamentário-financeiro que caracteriza a gestão do Brasil e da maior parte dos países latinoamericanos.

O problema principal não é o volume das compras, mas sim sua volatilidade e falta de
Previsibilidade (4).

No âmbito industrial, isso conduz sistematicamente à perda de capacitações, prejudica o avanço tecnológico e imputa uma série de riscos ao empresário. Além disso, como não há garantia de continuidade dos recursos, fica comprometida boa parte da possibilidade de se conduzir projetos de longo prazo, os quais sofrem sérias restrições, e o resultado pode ser a opção por propostas não condizentes com o almejado.

O predomínio do menor preço na seleção das propostas, diversas vezes, impede a escolha das empresas de maior capacidade técnica, mais qualificadas e preparadas, que oferecem soluções em defesa superiores em qualidade. O problema vem desde o processo de préqualificação das participantes em licitações públicas, o qual, mesmo com a previsão legal de diligências em qualquer fase do procedimento licitatório, permite a participação de empresas que não possuem recursos tecnológicos para desenvolver, implementar e manter determinado produto ou serviço.

Outros critérios de seleção deveriam ser considerados na Lei nº 8.666/93, como a análise da origem dos recursos e dos materiais utilizados para fornecimento, a fim de evitar a participação de empresas de fachada muitas vezes financiadas por estrangeiros e microempresas que atuam como representantes comerciais apenas fazendo a captação da licitação.

Portanto, uma medida essencial para a consolidação de um sistema de compras em defesa é o estabelecimento de orçamentos que, contrariamente ao que acontece hoje, garantam um grau de previsibilidade nos investimentos, permitindo o planejamento dos programas militares e oferecendo à indústria diretrizes suficientes para viabilizar seus planos de negócios. Neste sentido, a Lei de Programação Militar (Loi de Programmation Militaire) é um dos exemplos mais bem sucedidos da França já que, além de fixar o gasto militar francês para os próximos seis anos, também define metas, por exemplo, o número de funcionários ou o volume de equipamentos militares a serem entregues.

Uma das formas possíveis de avançar com relação à questão orçamentária estará em pauta no segundo semestre de 2011 no Congresso Nacional, quando se discutirá a repartição dos royalties do petróleo. A Frente Parlamentar da Defesa Nacional defenderá uma parte dos recursos para as Forças Armadas com o objetivo de atender aos encargos de defesa do território nacional, proporcionando uma fonte perene e crescente de recursos.

Além do estabelecimento de um marco institucional adequado e de um orçamento previsível, ainda é necessário considerar outros aspectos para estruturar um sistema de compras eficiente.

Em primeiro lugar, é fundamental o planejamento das aquisições de materiais de defesa e a comunicação das necessidades ao setor industrial. Neste sentido, o Defense Capability Plan australiano é outro bom exemplo. Atualizado e divulgado continuamente a cada dois anos, oferece uma perspectiva de planejamento das Forças Armadas para os dez anos seguintes. O documento descreve as aquisições que pretendem realizar, a capacidade da indústria local em suprir a demanda por soluções em defesa, os prazos estimados para aquisição, os custos, a complexidade técnica dos programas, o modelo de seleção de fornecedores, a dimensão e o cronograma dos projetos(5).

É importante, ainda, estabelecer diretrizes claras de gestão e controle dos programas militares com o desenvolvimento de sistemas que identifiquem problemas e atrasos nos projetos e avaliem continuamente seus resultados e riscos.

Por exemplo: em relatório intitulado The 2010 Army Acquisition Review, o Secretário do Exército norte-americano apontou falhas e problemas de eficiência nas aquisições militares, destacando que o processo de definição e especificação dos requisitos leva geralmente dois anos, não sendo este um período apropriado nem para projetos de longo prazo (6). O documento também destacou que, entre 1990 e 2010, 22 Programas de Aquisição em Defesa (Defense Acquisition Programs) foram cancelados antes de concluídos e que, desde 1996, o Exército gastou mais de US$ 1 bilhão por ano em programas que eventualmente foram interrompidos. São esses problemas de ineficiência que devemos ser capazes de identificar, quantificar, analisar e resolver.

Finalmente, deve-se contemplar o elemento humano, o qual se refere à condução dos processos de aquisição de material militar por profissionais qualificados e compromissados com o desenvolvimento da indústria nacional de defesa.

Nos Estados Unidos, por exemplo, a Defense Acquisition University é um centro especializado na formação de pessoal qualificado para a realização das compras especificamente na área militar (7). A maioria dos profissionais relacionados aos processos de aquisição em defesa passou pelos seus treinamentos ao longo da carreira, que envolvem cursos nas áreas de gestão de compras, auditoria, finanças, gestão de contratos, logística, entre outros.

Com a END e a recente estruturação do MD, temos a chance de repensar nosso sistema de defesa e aprimorar os processos de aquisição de material militar Para tanto, é fundamental estruturar um modelo de relacionamento entre a indústria nacional de defesa e seu único cliente, o governo. Somente com a inclusão da indústria no debate poderemos formular uma política de compras que seja sustentável no longo prazo.

1  – A Lei nº 8.666 foi alterada pela Lei nº 8.883/94; Lei nº 9.032/95; Lei nº 9.648/98; Lei nº 9.854/99; a Medida Provisória nº 2.182-18, de 23 de Agosto de 2001 que criou a modalidade de licitação pregão e a Lei nº 12.349/2010.
2 –  A Lei 8.032/1990 concede isenção de imposto de importação a todas as aquisições dos três níveis governamentais, bem como do respectivo imposto sobre produtos industrializados. Por outro lado, a legislação protetora para material de defesa somente atinge o Imposto sobre produtos Industrializados (IPI) e, mesmo assim, unicamente na Nota Fiscal de entrega do produto final, sobre o qual se acumularão os demais impostos gravados sobre o preço final.
3 – O Plano Brasil Maior é uma continuidade da Política de Desenvolvimento Produtivo (2008) e tem como objetivo formular e operacionalizar uma política industrial coordenada que vença os desafios da indústria nacional principalmente em termos de competitividade e desenvolvimento tecnológico.
4 – Além disso, o procedimento licitatório limita a aquisição de materiais em um período máximo de um ano conforme a validade da Ata de Registro de Preços. A consequente falta de continuidade influencia diretamente na possibilidade de manutenção e melhoria de um produto ou serviço, dificultando ainda a redução de preço
5 – Disponível em: http://www.defence.gov.au/dmo/id/dcp/DCP_DEC10.pdf
6 – McHUGH, M. John. Army Strong: Equipped, Trained and Ready. Final Report of the 2010 Army Acquisition Review. Janeiro de 2010.
7 – Para maiores informações, acessar: http://www.dau.mil/aboutDAU/default.aspx

DEPARTAMENTO DA INDÚSTRIA DE DEFESA
COMDEFESA
Informações:
Tel: +55 11 3549-4677
E-mail: comdefesa@fiesp.org.br
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Fonte: defesanet

Estratégia Nacional de Defesa

Mario Cesar Flores

A Estratégia Nacional de Defesa (END), em vigor desde dezembro de 2008 e desde então aberta ao conhecimento público, vem interessando à opinião pública? Não. Que repercussão teve no Congresso, corresponsável pela defesa, numa democracia? Nenhuma. Este artigo aborda aspectos da END que, esperançosamente, talvez possam contribuir para despertar interesse pelo tema.

Comecemos com uma observação instigante: a END foi formulada por comitê dirigido pelo ministro da Defesa, coordenado pelo secretário de Assuntos Estratégicos e integrado pelos ministros do Planejamento, da Fazenda e de Ciência e Tecnologia, assistidos pelos comandantes das Forças e ouvidas pessoas de saber nessa área. Chama a atenção a não menção ao ministro do Exterior (à época do preparo do documento, o hoje ministro da Defesa…), cuja participação seria supostamente apropriada.

Na contramão da tradição de autonomia das Forças, a END enfatiza o Ministério da Defesa. Afirma que “o ministro exercerá (…) os poderes de direção (…) que a Constituição e as leis não reservarem (…) ao presidente”. Centraliza a “política de compras” e preconiza a “unificação doutrinária, estratégica e operacional” das Forças – ideias que respondem à tecnologia moderna e pretendem integrar as visões corporativas das Forças e suas prioridades. Define que o ministro indica ao presidente os comandantes das Forças – uma ruptura com o passado, ao conferir ao ministro a intermediação entre o poder político e o militar.

Sem citar ameaças, diz a END que as Forças devem ser usadas “para resguardar o espaço aéreo, o território e as águas jurisdicionais brasileiras” e que “convém organizar as Forças em torno de capacidade, não em torno de inimigos específicos. O Brasil não tem inimigos no presente” – conceito em princípio correto (ressalte-se o cauteloso no presente…); mas capacidade referenciada a que tipo e grau de ameaça? Ao criticar a concentração (coerente com o passado) do exército no Sudeste e no Sul e da Marinha no Rio de Janeiro, afirma que “as preocupações mais agudas estão (…) no Norte, Oeste e Atlântico Sul” e sugere esta distribuição: Amazônia e fronteiras, forças dotadas de mobilidade na região central para emprego onde necessário e (à primeira vista, desconectada das preocupações agudas) forças no Sul/Sudeste para defesa da concentração demográfica e econômica (?), além da maior presença naval no Norte.

A tecnologia e seu desenvolvimento são enfatizados. O compromisso com a não proliferação nuclear é complementado pela “necessidade estratégica de desenvolver e dominar essa tecnologia” – supostamente para fins pacíficos, mas fórmula semântica ambígua, usada por países (Irã…) que querem manter aberta a porta nuclear. À ênfase na tecnologia é acrescentado o estímulo à indústria de interesse militar.

Parcerias com empresas estrangeiras são condicionadas à transferência de tecnologia. Embora realçando a indústria privada, atribui à estatal o pioneirismo em tecnologia “que as empresas privadas não possam alcançar ou obter (…) de maneira rentável”. Importante: é preconizada a continuidade orçamentária indispensável aos projetos longos – e até mesmo à sobrevivência empresarial -, o que há muito não ocorre.

A END afirma que “o Brasil ascenderá ao primeiro plano (…) sem exercer hegemonia e dominação”. Correto, mas conviria mencionar que para ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU é condição a responsabilidade correlata, propiciada também por capacidade militar. Não é cogitada a segurança coletiva como a pretendida no Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (Tiar) – sem sentido no pós-guerra fria – e tampouco há menção a substituto sul-americano, acertadamente porque segurança coletiva pressupõe ameaça comum, inexistente.

A afirmação de que o Conselho de Defesa Sul-Americano “criará mecanismo consultivo que permitirá prevenir conflitos” aparenta destoar da política regular: prevenir conflitos cabe a organizações políticas – ONU, OEA, Unasul… Sobre esse conselho, é sintomática a frase: “… sem que dele participe país alheio à região”, obviamente, os EUA.

A defesa do serviço militar obrigatório responde à responsabilidade de toda a sociedade pela defesa nacional – conceito consensualmente escamoteado: não temos recrutas das camadas superiores da pirâmide social. Entretanto, é preciso conciliá-lo com a tecnologia moderna, que exige capacitação dificilmente adquirida em dez meses de serviço militar por recrutas de instrução modesta.

O relevo atribuído à participação em forças internacionais e às forças de pronto emprego e de operações especiais reforça a influência da tecnologia na configuração dos efetivos: elas requerem profissionalização. Diz a END que a tecnologia não é alternativa à mobilização: estará hierarquizando a quantidade sobre a qualidade, ao contrário do mundo de poder militar eficiente? Há que procurar o equilíbrio do ideal republicano com o não comprometimento da eficiência, condicionada pela tecnologia.

Ao afirmar que “o País cuida para evitar que as Forças Armadas desempenhem papel de polícia”, a redação “cuida para evitar” aparenta aceitar, a contragosto, o papel de polícia, impróprio numa democracia quando além de episódio crítico que de fato imponha a ação militar transitória. Essa atuação está exigindo, nas palavras da END, “legislação que ordene e respalde as condições específicas e os procedimentos federativos que deem ensejo a tais operações, com resguardo de seus integrantes”.

Enfim, o saldo da END é positivo. O reconhecimento da conveniência de sua existência e sua abertura à sociedade já são relevantes, em país onde a defesa nacional não entusiasma a política e a sociedade. Há espaço para aperfeiçoamentos, alguns insinuados neste artigo. Mas é improvável que a END possa satisfazer a dimensão estratégica da inserção internacional do Brasil, a persistir o atual descaso societário e político pela defesa nacional.

ALMIRANTE DE ESQUADRA (REFORMADO)

Concorrência ( FX-2) sairá definição?

Por Sagran Carvalho.

Amigos,

Hoje iniciarei uma série de artigos onde opinarei sobre os três maiores projetos de Defesa hoje em curso nas nossas Forças Armadas:

A compra de caças para a FAB, o programa PROSUB da MB e do Programa VTBR do Exército. Não incluí na lista o Programa KC 390, que será tratado em outro momento, apesar da envergadura do projeto.

  Já aviso que, na questão dos  caças não indicarei minha preferência no intuito de evitar  que esta postagem se transforme numa guerra de torcidas. A intenção é outra.

Como o título deste artigo evidencia, opinarei hoje sobre um programa de aquisição de caças, que já se arrasta por três governos, e cuja definição não é e nem foi prioridade da agenda  governamental presidencial.

Estou falando do FX, que atualmente já se encontra em sua segunda versão: o FX-2.

O início deste programa se deu em  1998 no governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso, como um dos segmentos de um projeto maior lançado em 1996 e, que tinha como objetivo  a substituição de vários vetores da Força que chegavam ao final de sua vida útil. Seu nome era Plano Fênix.

 No que dizia respeito a aviação de caça de alta performance, a FAB  tinha necessidade  premente de substituir as aeronaves Mirage III operadas pelo 1º GDA (Grupo de Defesa Aérea) em Anápolis-GO que já se encontravam operacionalmente inviáveis, tendo previsão de baixa completa até 2005. A  modernização da frota de caças F-5 também era contemplada por este plano.

 A previsão orçamentária para a compra dos novos caças era de US$ 700.000.000,00, a serem obtidos através de financiamento externo, tendo como meta a aquisição de no mínimo 12 aeronaves( 8 monopostas e 4 bipostas ), com previsão de que os primeiros vetores escolhidos começassem a ser recebidos em 2001. Participavam desta concorrência fabricantes dos Estados Unidos, Rússia, França e Suécia.

FHC, que deu inicio ao processo, não definiu a concorrência, deixando a decisão para seu sucessor.

Em 2003 assume a presidência Luiz Inácio “Lula” da Silva com um discurso populista, que defendia a ampliação de programas de assistência social sob a bandeira do Fome Zero. Usando este argumento, cancela o Programa FX, com a promessa de que atenderia os anseios da FAB assim que o momento econômico permitisse. O que nunca mencionou  é que naquele momento, não haveria necessidade de desembolsos governamentais mesmo que uma decisão fosse tomada, pois as verbas não sairiam imediatamente do Tesouro Nacional, sendo que os desembolsos necessários ao pagamento dos aviões  se dariam  a médio e longo prazos, não interferindo de forma  alguma nos recursos necessários a implantação do Bolsa Família e outros programas assistencialistas.

Durante o primeiro mandato  de Lula o projeto de reaparelhamento da aviação de caça da FAB foi deixado de lado, sendo a única excessão a aquisição de 12 aviões Mirage 2000  usados, comprados da França, para o 1º GDA que não tinha como manter mais a operação dos Mirage III de forma segura. A vida útil destes “novos” aviões estava prevista para dez anos.

E o marasmo e a protelação continuaram…

Chegamos então ao segundo mandato de Lula na presidência, que venceu a eleição presidencial no segundo turno em 2006, embalado por um momento econômico bastante positivo em função da manutenção da política econômica do governo anterior e por uma conjuntura econômica global em que a demanda por comodites da nossa pauta de exportações era crescente, gerando grandes superávits em nossa balança comercial.

Com a economia indo bem, em 2007 Lula reabre a concorrência, agora chamada de FX-2 com algumas modificações, entre elas o aumento do número de vetores para 36 caças, e a inclusão de diversas atualizações tecnológicas ocorridas no período, mudando desta forma a categoria dos caças a serem adquiridos. A previsão de gastos também foi alterada, sendo elevada na época para algo em torno de R$ 3 bilhões.

As empresas interessadas nesta “nova” concorrência tem como procedência os mesmos países do programa anterior. Algumas ofertaram novos modelos e outras as versões mais modernas dos caças do programa anterior.

Em 2009 a FAB, após avaliação de todas as propostas, emite uma “short list” com os três caças finalistas que disputariam a concorrência, sendo eles:

Boeing F-18 E/F Super Hornet de procedência norte-americana,

Dassault Rafale F3 de origem francesa,

SAAB Gripen NG cuja a nacionalidade é sueca.

São dois caças bi-motores( F-18 e Rafale ), e um monomotor ( Gripen ).

A partir desta seleção a FAB inicia um programa ainda mais complexo de avaliação dos três caças abrangendo desde custos, até a transferência de tecnologia. O vencedor seria o que apresentasse maior pontuação nos requisitos que a FAB solicitaria, entre eles, custos de aquisição e de ciclo de vida, transferência tecnológica, integração de armamentos, alcance, capacidade de carga paga e etc.

No dia 7 de setembro de 2009, durante as comemorações da Independência em Brasília, Lula comete uma terrível gafe ao afirmar que o governo irá comprar caças Rafale na presença do presidente francês Nicolas Sarkozi. O mais grave nesta declaração, foi o fato da FAB ainda não ter finalizado as avaliações técnico-financeiras dos concorrentes em disputa, o que gerou uma série de constrangimentos e desagrados dos demais participantes do processo, deixando ainda transparecer que a decisão não seria técnica e sim política.

Em 2010 a FAB entregou o relatório final, onde mostrava a classificação final dos concorrentes dentro dos critérios estabelecidos desde o início do processo de avaliação. A classificação foi a seguinte:

1º Gripen NG,

2º F-18 E/F Super Hornet,

3º Rafale F3.

Este não era o resultado esperado pelo presidente e muito menos pelo ministro da Defesa de então que tinham clara preferência pelo caça francês. Neste sentido, houve uma pressão para que a FAB alterasse  os pesos da pontuação no intuito de que o Rafale  fosse o vencedor, dando argumentos ao governo para justificar a compra do mesmo. A FAB não aceitou esta imposição, mas teve que se submeter a decisão política que o presidente tomasse.

Estávamos em pleno processo eleitoral, e o presidente Lula trabalhava incansavelmente pela eleição de sua sucessora, a então candidata e ex-chefe da Casa Civil Dilma Roussef. Sua candidata acabou por vencer as eleições, mas a indefinição pela compra dos caças persistia.

O então ministro da Defesa, Nelson Jobim em várias ocasiões “garantiu” que o processo de escolha seria definido ainda no governo do presidente Lula, sempre apresentando previsões  que nunca se cumpriam. Mas Lula não decidiu nada, e deixou a definição para sua sucessora, como FHC o fizera oito anos antes.

Chega 2011 e  Dilma Roussef  assume a presidência da república.

Dilma manteve no cargo o ministro da Defesa Nelson Jobim, uma indicação do seu antecessor…e, as promessas de prazos continuavam, assim como persistiam o não cumprimento dos mesmos e uma finalização do processo.

Já estamos chegando a setembro de 2011, e neste período houve uma alteração na chefia do ministério da Defesa, assumindo a pasta Celso Amorim, e nada indica que nossa presidente irá tomar uma posição pela compra dos caças antes de 2012.

O GDA já começa a ter problemas de disponibilidade na operação dos “novos” Mirage 2000 adquiridos com tampões até a definição do processo. A previsão é que a baixa dos mesmos se dê em 2016. Novamente, se nenhuma decisão for tomada correremos o risco de ter que ir atrás de novas aeronaves usadas que seriam os tampões dos tampões, para que os responsáveis pela defesa aérea da capital não fiquem no chão por falta de aeronaves dedicadas à missão que lhes cabe.

Se levarmos em conta que o processo teve início em 1998, veremos que a concorrência  já se arrasta a 13 anos, sem que vislumbremos um final e a consequente compra dos aviões!

As propostas enviadas pelos finalistas da concorrência tem validade, temos vizinhos modernizando suas forças ( Venezuela e Chile ) com equipamentos muito superiores aos nossos, a FAB a cada dia que passa tem mais dificuldade em manter sua aviação de combate plenamente operacional…e a indefinição continua!

Quando a Defesa deixará de ser assunto de Caserna e passará a ser preocupação da sociedade e de seus governantes?

Temos que dar graças por não despertarmos a cobiça internacional, afinal somos um País pobre e sem riquezas, talvez Forças Armadas nem sejam necessárias …

E o pior, é que há quem acredite nisto!